No final de janeiro, uma mulher de 21 anos grávida de nove meses, acabou falecendo em uma ambulância em frente ao Centro de Saúde de Água Doce do Norte, no Espírito Santo, após ter sido liberada por uma médica obstetra. Syang estava com quase 41 semanas de gestação, grávida de Malya, quando ambas morreram.
Se queixando de falta de ar, dores nas costas e dores na região pélvica. O seu marido, Leandro, contou aos portais de notícias que, eles foram atendidos primeiro por um clínico geral na cidade de Água Doce do Norte. O médico então precisou encaminhá-la para o Hospital Estadual Alceu Melgaço Filho, em Barra de São Francisco, porque não havia ninguém especialista em obstetrícia no município de cerca de 11 mil habitantes.
Ao chegarem na cidade vizinha, no Hospital Estadual Alceu Melgaço Filho, a médica obstetra teria avaliado o estado de Syang e feito o exame do toque para verificar se havia algum tipo de dilatação que indicasse o início do trabalho de parto ou de uma alteração no colo do útero. Segundo Leandro, a médica concluiu que o colo do útero estava fechado e não havia dilatação, aconselhando o casal a retornar para casa.
“Ela [médica de Barra de São Francisco] pediu para minha mulher deitar na maca, fez o toque nela e disse que ela não estava dilatando, que o útero dela estava fechado e que ela poderia voltar para casa. Disse que não tinha nada de mais com ela”, disse Leandro. Ele ainda questionou sobre a falta de ar: “Sei que é normal quando a grávida fica deitada, mas não quando está em pé. Mesmo assim, a médica disse que isso era normal,” contou.
Descaso e morte
Eles então retornaram para casa. Ainda no domingo à noite, Syang voltou a sentir falta de ar, só que com maior intensidade. Eles foram novamente ao Centro de Saúde de Água Doce do Norte, onde ela foi atendida pelo médico de plantão que desconfiou que fosse algo mais grave. O médico decidiu que ela precisaria de uma transferência urgente para o hospital estadual e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) com pedido de UTI.
Segundo Leandro, a ambulância demorou 40 minutos até a chegada e, no local, também houve demora para que o Samu levasse a grávida até a cidade vizinha.
“Colocaram ela dentro da ambulância, que ficou parada em frente ao centro de saúde. O médico massageou a minha esposa por cerca de 45 minutos, até que em certo momento ele saiu da ambulância e disse que minha esposa havia tido uma parada cardíaca e que minha filha também havia falecido”, contou o marido.
Ele disse que, pelo que lhe foi informado, a paciente estava em um estágio muito avançado de pneumonia. O médico do Samu teria dito que para que fizessem a transferência, ela precisaria ser entubada. Contudo, quando Leandro autorizou o procedimento, ela teve uma parada cardíaca que levou à sua morte.
Ele disse que irá buscar justiça para que a perda da esposa e da filha não fique impune. Leandro confirmou que Syang já estava com 40 semanas e quatro dias de gestação.
“Minha filha nasceria no dia 24, data em que minha esposa faria 41 semanas de gravidez. Não se atentaram à parte clínica da minha esposa, à falta de ar. Se ela estivesse no hospital, em observação, as duas estariam vivas. Agora estou sem nenhuma delas”, lamentou.
O que dizem as autoridades
Conforme a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, durante o primeiro atendimento no hospital estadual, foram feitos todos os exames necessários e se chegou à conclusão de que a paciente não tinha perda de líquidos e que o colo de útero estava fechado e sem dilatação. O órgão afirmou que a paciente foi medicada para dor e recebeu alta após melhora.
A polícia civil do Espírito Santo informou que o caso está sob investigação. O CRM-ES, por seu lado, declarou que, em caso de indício de falta ética, será aberto um processo ético-profissional contra a médica que liberou a paciente.
A prefeitura de Água Doce do Norte decretou luto oficial de dois dias na cidade após a tragédia.